Festival Ermal 09



NightmareDepois de uma ausência longa o suficiente para se fazer sentir, um dos mais conceituados festivais portugueses voltou com um cartaz ainda maior e mais focado no metal e que conta com uma maior proporção de bandas internacionais.

Embora seja de louvar um cartaz de 45 bandas em que quase todas elas são do agrado da maioria, acabou por ser alvo de algumas críticas por parte de quem foi ao festival, dado que obrigou a que os concertos começassem muito cedo e que muitas bandas tocassem uns míseros 30 minutos. As primeiras bandas de cada dia tinham assim um papel algo ingrato uma vez que abrir para uma plateia quase vazia não é certamente motivante, algo que se deveu não só ao calor mas também devido ao facto de que à hora de início dos concertos muita gente ainda estava pela vila de Vieira do Minho a fazer compras, levantar dinheiro, almoçar, ou andava simplesmente pelo acampamento ainda a acordar e fazer a higiene pessoal. Teria sido preferível reduzir um pouco o número de bandas em cartaz e prolongar os concertos até mais tarde de modo a poder começar os mesmos a uma hora um pouco mais favorável.

O local que dá o nome ao festival e onde este se realiza, a Ilha do Ermal, não poderia ser melhor, proporcionando por si só um ambiente agradável para se estar e permitindo ainda tomar uns banhos para refrescar nas horas de maior calor ou nos intervalos dos concertos sem necessidade de sair do recinto. Esta foi aliás uma das grandes tentações dos festivaleiros, acabando muitos por preferir ficar na água em vez de assistir aos concertos. Infelizmente o local do festival ficava um pouco longe da estrada principal onde as pessoas eram obrigadas a deixar os carros, estrada essa que não permitia muitos lugares para estacionar perto do local onde estava a barreira montada pela organização do festival. Existiam autocarros gratuitos vindos de Vieira do Minho de hora a hora que faziam uma paragem junto a essa mesma barreira para apanhar mais pessoas que desejavam boleia para mais próximo do local do festival, no entanto no primeiro dia ninguém avisava sobre a existência da paragem desses autocarros ali naquela zona e devido ao tempo que decorria entre cada autocarro, muitas pessoas optavam por fazer mais de 20 minutos a pé carregadas com tendas e outros sacos até ao acampamento.

As condições gerais do recinto eram bastante boas. O acampamento era espaçoso o suficiente, com solo bom para colocar as estacas das tendas, e ainda alguma sombra, no entanto à noite essa mesma sombra bloqueava completamente em certas zonas a iluminação existente e obrigava ao uso de lanternas, algo perdoável. O ponto negativo vai no entanto para os urinóis e retretes colocados no meio da passagem de um dos níveis do acampamento, obrigando a que qualquer pessoa que quisesse aceder a esse nível tivesse de apreciar o aroma dos excrementos humanos. Algo de que não dei conta mas que no entanto foi bastante falado pelos festivaleiros, foi as condições de higiene das retretes, dando a ideia de que estas não foram limpas durante os 3 dias do festival. Os chuveiros presentes no acampamento foram do agrado da maioria dos campistas, não havendo queixas em relação à temperatura ou pressão da água, nem mesmo em relação à higiene do local.

A nível de restauração o festival estava bastante bem servido, tendo desde os hamburgers e chachorros da praxe a pizzas, kebabs, sandes, entre outros, a preços que não eram propriamente baratos mas que no entanto também não levavam à falência. A cerveja, elemento tão essencial à vida de qualquer metaleiro como a água é a qualquer ser humano, estava a €1.50 em todos os estabelecimentos, sendo que o único factor de escolha residia na maneira como esta era tirada. Fez falta a existência de packs de várias cervejas que permitissem um preço mais reduzido por cada cerveja. Havia ainda um bar aberto 24 horas por dia junto ao campismo que era frequentado não só pelos resistentes da noite mas também por quem acordava de manhã e ainda não estava pronto para os concertos, os preços eram semelhantes aos dos praticados dentro do recinto e servia-se tanto bebidas como comida.

Passando ao que atrai as pessoas a um festival, infelizmente não vou poder falar dos 45 concertos, por isso vou apenas falar dos destaques.

Os One Man Army & the Undead Quartet eram um dos nomes fortes do cartaz e que certamente criaram expectativa para muita gente que esperava deles um bom concerto. Apesar de não haver grande agitação no público, a banda fez o que muitos esperavam, um bom concerto, e manteve sempre uma postura de quem já está bastante à vontade em cima dos palcos, sendo sempre bastante expressivos e mantendo um bom ritmo. Não foi um concerto daqueles que ficam para a memória no entanto.

Os The Temple conseguiram mostrar que mesmo depois de uma longa ausência dos palcos e alteração na formação devido a uma lesão do anterior vocalista ainda mantêm a mesma atitude e o lema “rock now, society later” está bem vivo. Apesar de algumas falhas do novo vocalista, nomeadamente na música “Fightbull”, nota-se a motivação e empenho do mesmo através da sua presença em palco, e estou confiante que dando-lhe tempo suficiente ele vai ao sitio e não terá de enfrentar comentários de que o vocalista anterior fazia as coisas desta ou daquela maneira.

O concerto dos Dark Moor no geral não impressionou, ficando apenas marcado pelo duelo entre o guitarrista e o baixista, onde foi exibida a excelente técnica dos músicos mas também houve espaço para algum humor.

Os Disbelief eram umas das bandas que eu mais antecipava ver de todo o cartaz, no entanto o concerto foi completamente estragado pela péssima qualidade de som. Não estamos a falar de som distorcido ou instrumentos em falta, mas sim de um atraso abusivo entre as várias colunas que criava a sensação de estar a ouvir duas músicas em simultâneo.

A banda holandesa Textures deixou muita gente curiosa, uma vez que muita gente já tinha ouvido falar neles mas poucos já os tinham ouvido. O concerto apesar de ter agradado bastante a alguns, não teve o mesmo efeito noutros para quem foi algo inconsistente uma vez que a sonoridade da banda teve passagens de hardcore, metalcore, death metal e até mesmo progressivo.

Os Obituary conseguiram acordar algumas das pessoas que ainda não tinham tomado consciência que estavam num festival de metal. Deram um bom concerto passando por algumas das malhas mais conhecidas e deixaram o público satisfeito.

A banda Firewind, à semelhança da maior parte das bandas de power metal que passaram pelo festival, não conseguiu cativar muito o público, sendo que muita gente optava por começar a caminhar para as tendas ou simplesmente conviver junto às barracas da cerveja.

Os My Enchantment vieram mostrar mais uma vez que estão confortáveis nos palcos e sabem como tocar para qualquer público que esteja ali para os ver. Uma grande banda que se tem feito sobressair do underground nacional cada vez mais.

Os também nacionais EAK tiveram também uma boa prestação numa actuação um pouco teatral e que deu um novo sentido a “amar a música”. Uma boa sonoridade, juntamente com alguma provocação bem humorada.

Os Wykked Wytch chamaram mais a atenção não tanto pela sua música mas mais pelo visual de toda a banda. No entanto foi um bom concerto para a maioria, embora tenha havido claro quem não conseguisse pôr de lado o aspecto da banda e tenha posto isso à frente da música.

Os portugueses WAKO vieram mais uma vez mostrar a qualidade do metal oriundo do chamado Texas ribatejano. Assim que sobem ao palco agarram logo no público e ninguém fica indiferente à actuação. Infelizmente o concerto teve de terminar mais cedo devido a problemas técnicos.

Os Heavenwood deram um concerto um pouco desenquadrado do resto do festival, chegando a ser até enfadonho, conseguindo cativar apenas por breves e ocasionais momentos. Já noutros eventos onde prevalece a música mais pesada notei que o publico não mostrava grande entusiasmo pelo concerto desta banda, no Ermal o sentimento foi igual.

Os Hatesphere mais uma vez arrasaram em palco. Boa música sempre a abrir acompanhada de uma grande dose de energia em palco, é disto que é feito o rock. Palavras para quê?

Sepultura como seria de esperar eram a banda que muita gente estava ali para ver naquele dia. O thrash made in Brasil ainda tem força e toda a gente conhecia as músicas e delirou com o concerto, apesar do que muita gente possa dizer sobre a qualidade de trabalhos recentes da banda.

Korpiklaani foram uma escolha para cabeça de cartaz do segundo dia incompreendida por muitos, no entanto tendo em conta que é uma banda que cria ambiente de festa propício a beber e ficar alcoolizado, é natural que fiquem para o fim. Foi um bom concerto que animou toda a gente que ainda ficou no recinto para ver o concerto.

Os Nimim foram uma agradável surpresa e que tenho pena que não estivesse em frente ao palco mais gente para os ver actuar. A banda tinha uma boa sonoridade com uma mistura equilibrada entre música electrónica e um rock e metal de tendências industriais e groove. Destaca-se ainda a boa presença em palco e a interactividade que os membros da banda tinham entre si. A banda transparecia o gozo que estava a ter em tocar, e isso por si só já faz ter gosto em ver a banda a tocar.

Os Switchtense já nos habituaram a concertos bem a rasgar e que não deixa ninguém indiferente. Tal só acontece não só devido à qualidade das músicas mas principalmente devido à paixão e entrega que os músicos fazem transparecer, incentivando o público a fazer parte de algo.

Sem dúvida os reis do thrash em Portugal, os Pitch Black que agora contam com um novo vocalista ofereceram ao público meia hora de pura destruição
com temas clássicos já bem conhecidos do público e ainda alguns do novo álbum.

Apesar da qualidade inegável da banda Meneater, este foi um concerto um pouco desenquadrado do alinhamento mais pesado do resto do cartaz e que se revelou um pouco aborrecido para um público que tinha recebido uma dose de metal a abrir. A pouca presença em palco da banda também não ajudou e o resultado foi um público estático.

Os Ramp acabaram por ser uma surpresa. Apesar dos comentários de que a banda já estava um pouco perdida e de elementos da banda terem estado a trabalhar durante todo o festival como roadies, a banda mostrou que ainda tem energia para vender e oferecer. Foi assim proporcionado um bom concerto com garra do princípio ao fim e os Ramp mostraram porque é que sendo um dos nomes mais antigos do metal em Portugal ainda aí andam na estrada enquanto outros foram sendo esquecidos.

Os Blind Guardiam estiveram pela primeira vez em Portugal e muitos eram os que estavam na plateia para assistir a essa estreia. O público vibrava com cada música e conhecia a letra das mesmas, cantando-as com a banda e mostrando a cada momento que estava a adorar, algo que a banda percebia e fazia questão de retribuir.

Todas as noites depois dos concertos havia ainda mais música a passar pelas mãos de António Freitas para satisfazer quem ainda sobrevivia e não tinha vontade de ir para as tendas. Embora no geral fossem proporcionados bons momentos, principalmente na primeira noite, houve momentos em que a repetição dos temas passados já se fazia sentir em demasia. O Freitas mostrava bem as suas origens baseadas no metal da velha guarda, passando ocasionalmente temas de bandas mais recentes, no entanto ficou por se fazer ouvir muita banda tanto recente como mais antiga.

O número de elementos das forças de segurança presentes no recinto era de louvar, o que contribuiu para que não houvessem desacatos nem roubos a
relatar. No entanto, por vezes ficava a sensação de estar montada uma caça ao homem devido a algumas medidas um pouco exageradas e elementos da GNR um pouco mal humorados que não perdoavam nada e reagiam demasiado impulsivamente e de forma quase que forçada, o que acabou por aquecer um pouco os ânimos com alguns elementos do público menos sóbrios.

Muitas foram as pessoas que decidiram voltar para casa apenas na 2ª feira de manhã para evitar fazer longas viagens durante a noite. Essas pessoas no entanto ao acordar depararam-se com uma ausência total de elementos das forças de segurança ou membros do staff do festival, ninguém diria que ainda há umas horas atrás tinha havido ali um festival. Seria de esperar que fosse possível encontrar alguém a quem pedir informações.

Apesar de algumas falhas existentes, a Dream Seductions está de parabéns pelo festival, é de louvar a maneira como foram capazes de trazer de volta o festival da Ilha do Ermal. No geral foi uma experiência a repetir, e esperemos que o festival tenha voltado para ficar.


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Texto por: Luís "Slide" Rodrigues
Fotos por: Luís "Slide" Rodrigues e Filipe "Mütiilator" Gomes

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